Manifestação

Promessa de ato ‘gigante’ não é cumprida por bolsonaristas, em Brasília

O ato marcado para esta quarta-feira (11/1), na Esplanada dos Ministérios, foi um fiasco. A convocação para a manifestação estava sendo ventilada nas redes bolsonaristas desde terça-feira (10/1) e prometia ser gigante e “pela retomada do poder”. O Correio foi ao ponto de encontro para acompanhar o protesto. No entanto, até aproximadamente 19h30, a reportagem conseguiu contar apenas oito presentes.

Apesar da baixíssima adesão à manifestação, um forte contingente policial se encontrava no local, tanto na frente do Congressos Nacional, com uma fileira que ia de um lado a outro da Alameda dos Estados, quanto na parte de trás dos ministérios. Muitas equipes de jornalismo, inclusive internacionais, também aguardavam no local.

Correio conversou com alguns dos poucos manifestantes que atenderam à convocação. O casal brasiliense — o funcionário público Jeferson Mário, 62, e a dona de casa Eunice Carvalho, 58 — acredita que a baixa adesão se deve por medo do “Xandão”, apelido que vem sendo usado para se referir ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O casal chegou antes da hora marcada e disseram não estavam desapontados, mas surpresos com o vazio no local. “Viemos protestar contra essa situação de caos que está neste país. A constituição foi rasgada por quem deveria protegê-la, que é o STF,” desabafa Jeferson. O servidor público acredita que a crise começou quando a suprema corte, em 2016, manteve os direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff.

“Acho que foi excessivo porque havia pessoas que não participaram do quebra-quebra, com o qual nós não concordamos, mas houve arbitrariedade, porque havia senhoras e crianças no protesto”, disse Eunice ao referir-se aos atos de depredação nas sedes dos três poderes que chocaram o país no domingo (8/1). Sobre as eleições, ambos concordam que não há provas de que foram fraudadas, mas que também não há de que não foram. O casal, que defende a execução de novas eleições, com “votos auditáveis”, decidiram ir embora por volta das 19h.

O medo de ser preso foi algo que foi mencionado por todos com quem o Correio conversou. Clarice Teixeira, 73, mora em Natal (RN), veio para Brasília apenas para as manifestações, e esteve na Esplanada dos Ministérios no domingo, mas acredita firmemente que a depredação foi feita por “infiltrados no movimento”. Ela estava muito emocionada, chorou algumas vezes enquanto conversava com o Correio e disse estar “desapontadíssima” com a pouca quantidade de pessoas. “Vim para ver se conseguíamos algo, mas viramos bandidos nesse país. Todos viram o que passamos 63 dias em frente aos quartéis, com crianças e idosos. Nossa democracia foi para as favas. Que Lula e Xandão sejam presos,” declarou a professora aposentada.

Clarice estava sendo acompanhada por Letícia Caldas de Brito, 32. Ambas tinham acabado de se conhecer e se tornaram amigas. “O Brasil está em estado crítico, somos roubados e lesados e ninguém está fazendo nada. O verdadeiro criminoso está solto e nós somos vistos como golpistas e terroristas”, desabafa a paraense. Diferente da amiga, que veio a Brasília apenas para comparecer às manifestações, Letícia veio para a cidade para conseguir um visto para México, para onde pretende viajar, e aproveitou para atender à convocação que recebeu pelas redes. “Toda uma geração vai ser prejudicada pelo governo Lula. Eu defendo uma intervenção militar ou novas eleições, mais transparentes”, sustenta. 

Do Correio Braziliense.

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