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Professores são expostos e ameaçados em mais um caso em PE

Mais uma vez uma carta anônima, em que lista professores e suas disciplinas faz agressões e ameaçam docentes, foi encontrada em universidade de Pernambuco. O documento foi distribuído e divulgado nas redes sociais. Esta é a segunda ameaça a professores pernambucanos só nesta semana.

Na última terça-feira (6) uma carta que expunha e ameaçava pelo menos 22 professores e pesquisadores foi encontrada no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Nesta quinta-feira (9), outra carta foi encontrada na Universidade de Pernambuco (UPE).
“Os Soldados do Mito” como se autointitulam os autores da carta prometem que “a doutrinação vai acabar. É o mito, Ustra Vive”. O documento encontrado por alunos, cita ao menos cinco professores e suas disciplinas, defendendo a extinção de cursos como História, Geografia e Pedagogia. “Vamos sim filmar e denunciar as aulas mentirosas”.
O patrono da Educação no Brasil, professor Paulo Freire são ridicularizados no texto que defende mudança do nome de espaço no campus para o responsável de atos de tortura na ditadura sanguinária no Brasil, Coronel Brilhante Ustra. Em outro momento, a carta desdenha do curso de extensão de Artes Cênicas da universidade, prometendo “não vai ter teatro”.
Em outro momento, o texto faz referência ao projeto conservador Escola Sem Partido que está em tramitação no Congresso Nacional. “Queremos a universidade sem partido e a direção vai ter que aceitar”, defendem. “Escola Sem Partido, contra a ideologia de gênero e os comunistas”, diz em outro trecho.

Primeiro caso

Com o mesmo grau de ofensas, a UFPE também foi vítima de carta ameaçadora nesta semana, após ter conhecimento da carta, a reitoria da universidade abriu sindicância e acionou a Polícia Federal e o Ministério Público para apurarem o caso.

Em desagravo à ameaça e em apoio aos professores agredidos na universidade federal, cerca de 200 pessoas, entre professores, estudantes e servidores técnico-administrativos participaram de ato organizado pela Associação dos Docentes da UFPE (ADUFEPE). O abraço simbólico aconteceu em frente ao CFCH, na última quarta-feira (7). A entidade repudiou veementemente as ameaças aos professores, dizendo ser “antidemocrática e de desrespeito à Constituição Federal”.

A Ascom da ADUFEPE, confirmou que na quarta-feira mesmo, dia do ato, a Polícia Federal esteve na universidade falando com alunos e com os professores citados na carta, mas que não se pronunciaram sobre o caso.

O estudante de Farmácia da UFPE, Marjory Williams disse que se sente entristecido em saber que pessoas pensam dessa forma. Para ele, a resenha da carta aponta “uma inversão da história do nosso país, nós que conservamos a memória, sabemos quem foram os nossos vilões e quem foram os nossos heróis”.

“Invertem o que é certo e o que é errado”

Para ele, há uma violência presente na ideia dos autores da carta. “Nós achamos extremamente revoltante, depreciar um dos grandes transformação da Educação no Brasil que foi Paulo Freire e reverenciar um um carrasco. “Sabemos o que significou a contribuição de Paulo Freire e do Coronel Ustra para o Brasil. Me causa tristeza em ver os professores ameaçados”.

A universidade deveria ser um espaço de defesa da liberdade de expressão, de ampliar o saber e de convívio, de aceitar a pluralidade.

Segundo Williams, a instituição deve garantir segurança para todo o quadro acadêmico. Por isso, é necessário instaurar um processo administrativo para encontrar o inimigo e puni-los. Eles estão tentando nos intimidar!

“É preciso garantir que se continue a lógica da universidade como indutora do desenvolvimento nacional, como formuladora do conhecimento do país”.

O estudante sugere que a instituição tente gerar mais debate e mais conhecimento sobre o tema da democracia. “A universidade precisa ser um espaço plural e tentar falar para cada vez mais estudantes não entrarem nessa onda de retrocesso que é pensar em reprimir o pensamento e a liberdade dos outros. Para não ameaçar professores e gerar essa sensação de insegurança em nossa instituição.”

Universidade de Pernambuco

Como instituição pública que goza do princípio constitucional de autonomia, a universidade estadual divulgou nota pública “frente às ações de violência com características de manifestações de ódio” em que fere profundamente o Estado Democrático de Direito. A nota afirma o repúdio da universidade à agressão de qualquer membro de sua comunidade acadêmica”, aponta que não tolera “ameaça à qualquer liberdade, ao pensamento crítico, à democracia, e intimidação de seus membros”.

A reitoria informa que está apurando o caso para a responsabilização dos autores da agressão, instaurando sindicância interna, denunciando às autoridades policiais, formando equipe com suporte jurídicos às vitimas.

Citada na carta encontrada na UPE, a historiadora e professora Janaína Guimarães, relatou ao Brasil de Fato que os professores irão entrar com uma ação no Ministério Público, a partir da Seção Sindical dos Docentes da Universidade de Pernambuco (ADUPE), representação da categoria, para pedir medida protetiva na Universidade. “Iremos fazer atos e tomar atitudes. Enquanto houver legislação, enquanto houver Constituição, a gente vai estar aqui reagindo. Estaremos na resistência sempre, em defesa da escola e da educação de qualidade”, ressaltou.

A ex-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE-UPE) e atual dirigente da entidade estudantil, Ranielle Vital, estudante do Campus da Mata Norte da UPE – onde foi encontrada a carta – informou que os estudantes estão fazendo uma mobilização em diversos campus da universidade em uma campanha anti-fascista. “A gente não vai aceitar que esse ódio esteja presente dentro da universidade, estamos fazendo esse diálogo em toda a região acadêmica”.

Para ela, a reitoria precisa abrir inquérito para investigar e denunciar às secretarias do governo no estado para que uma solução ocorra de forma competente. “Que a gente consiga chegar de fato nas pessoas que estão fazendo essas ameaças dentro da universidade”, contou à redação.

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