Brasil

Comparar o futebol masculino com o feminino é prejudicial às mulheres

“Cria-se uma rixa entre as modalidades que é prejudicial apenas à imagem do feminino — justamente quem mais precisa de apoio e incentivo, inclusive de atletas homens, para continuar crescendo. É possível, sim, apoiar um e outro”.

Por Juliana Arreguy, no Yahoo Esportes

 

 Marta fez mais gols pela seleção brasileira do que Pelé

A seleção feminina foi heptacampeã da Copa América e ninguém soube; a jogadora Marta ultrapassou Pelé na artilharia da Seleção Brasileira e não houve divulgação. Os dois exemplos citados acima, apesar de verdadeiros, vêm sendo compartilhados completamente fora de contexto nas redes sociais e, ao invés de promoverem a modalidade, têm feito um verdadeiro desserviço ao futebol feminino.

Se não ouvimos falar sobre tais conquistas, é porque não procuramos saber mais sobre a modalidade. Ou só lembramos dela quando há críticas à seleção masculina — seja ao cai-cai de Neymar, à falha de Miranda contra a Suíça ou ao descontentamento com as coletivas, perdoem, professorais de Tite. O futebol feminino, para caminhar sozinho, precisa se sustentar sem a imagem do masculino sempre à espreita, tanto pelas críticas quanto pelos elogios.

A Copa América Feminina, por exemplo ocorreu em abril deste ano. O Brasil, campeão com 100% de aproveitamento (sete vitórias em sete jogos), apenas cumpriu uma obrigação. Sem uma rival forte entre as seleçōes sul-americanas, a equipe é muito mais próxima do topo do ranking da Fifa do que as vizinhas — abaixo do Brasil, em 7º lugar, o time do continente mais bem colocado é a Colômbia, na 26ª posição.

O título não deixa de ser importante. A campanha garantiu a classificação para a Copa do Mundo, no próximo ano, e para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. No entanto, o masculino também tem boa marca na Copa América: são oito títulos contra equipes de futebol muito mais competitivo e equiparado.

Se Pelé tinha 95 gols com a camisa da Seleção, Marta chegou aos 98 em goleada de 11 a 0 sobre Trinidad e Tobago durante um torneio amistoso. Faltou dizer que o recorde foi alcançado em 2015 — e que antes do fim do ano, a alagoana já tinha ultrapassado a marca de 100 gols.

Em 2016, na Olimpíada, circulou a imagem de um garoto que riscou o nome de Neymar em sua camisa 10 e acrescentou o de Marta. Quantos mantiveram o apoio às mulheres após a eliminação para a Suécia? O ato de “protesto” foi logo pelo ralo quando a bola entrou em curva no gol de falta contra a Alemanha (“Vão ter que me engolir”, garantiu Neymar após o triunfo nos pênaltis).

Por que as manifestaçōes de apoio ao futebol feminino chegam com atraso? Falta incentivo, falta visibilidade e falta transmissão, sem dúvidas, mas também falta vontade de pesquisar. Os jogos da Copa América foram todos transmitidos em redes sociais, com a própria CBF se encarregando da divulgação das partidas. Em dois meses criou-se um súbito interesse por um título que, já passado, é colocado como contraponto aos jogos do masculino na Copa do Mundo de forma equivocada. O contraste chega a ser desleal com o feminino, que nunca venceu o Mundial.

Cria-se uma rixa entre as modalidades que é prejudicial apenas à imagem do feminino — justamente quem mais precisa de apoio e incentivo, inclusive de atletas homens, para continuar crescendo. É possível, sim, apoiar um e outro.

Marta, por exemplo, foi contratada como colunista do jornal britânico The Guardian para comentar a Copa. É uma forma de prestigiá-la e valorizar sua visão de jogo como atleta sem precisar diminuir ou atacar a seleção masculina.

A menos de um ano da Copa do Mundo Feminina, que será na França, uma desafio: tratar a competição como única, sem precisar utilizar o masculino como mote para alavancar a torcida.

Fonte: Yahoo Esportes

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