Eleições 2020 Pernambuco

Com 56% dos votos, João Campos vence Marília Arraes em Recife

O deputado federal João Campos (PSB), que completou 27 anos na sexta passada, foi eleito prefeito de Recife neste domingo, 29, vencendo uma acirrada disputa contra sua prima de segundo grau, a também deputada federal Marília Arraes (PT). Ele obteve 56,27% dos votos válidos, ante 43,73% recebidos por ela. O índice de abstenção foi de 21,26%, e 9,17% dos votos foram nulos e 3,48% em branco. 

Apesar do grau de parentesco e da origem política comum – ambos são herdeiros políticos dos ex-governadores de Pernambuco Eduardo Campos e Miguel Arraes, os candidatos protagonizam uma sequência de desentendimentos desde o primeiro turno. Além da briga pelo poder local, na campanha estava em jogo uma medição de forças entre duas legendas do campo da esquerda que preparam terreno para 2022: a aliança PSB-PDT e o PT – que contou com o apoio do PSOL na disputa pela capital pernambucana.

do campo da direita. 

Já Arraes tinha adotado um discurso segundo o qual seu primo, se chegasse à Prefeitura de Recife, seria uma espécie de fantoche da mãe, Renata Campos – viúva de Eduardo Campos e aliada do atual prefeito, Geraldo Julio (PSB), e do hoje governador do Paulo Câmara (PSB). Marília chegou, mês passado, a chamar o primo de “frouxo” e sugeriu que ele estava se escondendo atrás de sua vice, Isabella de Roldão (PDT), para criticar as propostas petistas.

A primeira discordância política pública entre Campos e Marília ocorreu em junho 2014, quando o hoje deputado, aos 20 anos, desistiu de disputar comando da Juventude Socialista depois de uma manifestação da prima, então vereadora que pretendia se candidatar a deputada federal sem apoio do então presidenciável Eduardo Campos.

Diferentemente do que aconteceu em São Paulo, onde a maioria dos quadros e partidos de esquerda declarou apoio à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) e passou a falar em “grande frente progressista”, em Recife os apoios ficaram divididos. Lula gravou para Marília e Ciro Gomes (PDT) subiu no palanque de Campos. 

Nos últimos dias, tanto quadros do PT quanto pessoas que integram a aliança do PSB com o PDT têm repetido que não avaliam ser possível mais realizar uma convergência entre as legendas num eventual projeto presidencial para 2022. 

Em entrevista recente ao Estadão, o senador petista Humberto Costa afirmou que a disputa em Recife teria, na sua opinião, separado PSB e PT definitivamente, e feito com que o primeiro se unisse ao PDT. Ao falar do tom antipetista da campanha de Campos, Costa citou a possibilidade de o PT até desembarcar do governo de Paulo Câmara (PSB), que os petistas ajudaram a eleger em 2018.

Naquela eleição, a candidatura de Marília foi rifada pela direção nacional do PT em prol de uma aliança com o PSB no Estado. Em troca, a legenda retirou a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda para o governo mineiro e declarar apoio ao petista Fernando Pimentel. Na época, o acerto envolveu também a declaração do PSB de neutralidade na disputa nacional, sufocando a candidatura Ciro Gomes (PDT).

Neste ano, porém, o aval da direção nacional do PT à candidatura de Marília é tida como a gota d’água que fez com que o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, vetasse aliança com petistas em qualquer município e formalizasse uma coalizão com o PDT. Em entrevistas, o líder partidário tem explicitado que acha que o PT é muito intransigente e cede pouco espaço aos aliados políticos. 

Já o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, em nome da aliança com o PSB, destituiu todo o diretório municipal da sigla na cidade porque o presidente local, o deputado Túlio Gadêlha (PDT), pretendia se lançar contra Campos – depois declarou apoio ao PT.

Campos adotou tom antipetista e chegou a dizer, durante um debate, que o PT não pode reclamar de corrupção porque não é possível contar nos dedos a quantidade de pessoas da sigla que foram presas sob acusações de desvios. Sua propaganda citou nomes de petistas como José Dirceu, Gleisi Hoffman e Aloizio Mercadante, afirmando que eles “querem voltar”. 

Do Estadão

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